Mapeamento das emissões diretas e indiretas ajuda instituições a estabelecer metas reais de redução e gestão ambiental mais eficiente
A partir de 2026, companhias abertas e instituições financeiras no Brasil estarão obrigadas a divulgar suas informações de sustentabilidade com base nos padrões internacionais IFRS S1 e S2, conforme determina a Resolução CVM nº 193/2023. As normas, definidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), deverão ser aplicadas aos exercícios iniciados em 1º de janeiro do próximo ano.
O IFRS S1 estabelece requisitos gerais para a divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, abrangendo todos os temas materiais que possam afetar o valor da empresa — como questões ambientais, sociais e de governança. Já o IFRS S2 é um padrão complementar, com foco exclusivo em riscos e oportunidades relacionados ao clima, exigindo a divulgação de emissões de gases de efeito estufa (escopos 1, 2 e 3), metas de redução e planos de transição climática.
Ambos os padrões seguem a estrutura do TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) e têm como objetivo padronizar a comunicação de informações sustentáveis, promovendo maior transparência e comparabilidade para investidores, financiadores e demais públicos de interesse.
Inventário EGEE
A Resolução CVM nº 193/2023 não exige explicitamente a publicação de um inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE) como um documento separado. No entanto, ela torna obrigatória a divulgação de informações climáticas, conforme os requisitos do IFRS S2, e isso implica, na prática, a necessidade de mensurar e reportar as emissões de GEE.
Mesmo sem esta obrigatoriedade legal (por não ser empresa de capital aberto, mas sim uma instituição filantrópica) e por ter colocado o ESG em sua estratégia, o Grupo Marista concluiu seu primeiro inventário de emissões de gases de efeito estufa, referente ao ano-base de 2024. O levantamento envolveu todas as frentes de missão em que atua — PUCPR, FTD Educação e hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru — e permitiu quantificar, pela primeira vez, o impacto ambiental direto de suas operações. O trabalho foi realizado com o apoio de consultoria especializada e seguiu os principais protocolos internacionais de mensuração, como o GHG Protocol e a ISO 14064-1.
Ao longo do processo, foram mapeadas as emissões diretas — aquelas provenientes de fontes controladas pela própria organização, como veículos, caldeiras e geradores (conhecidas como escopo 1) —, bem como as emissões indiretas relacionadas ao consumo de eletricidade (escopo 2). A próxima etapa, prevista para os ciclos seguintes, será incluir também as chamadas emissões de escopo 3, que abrangem toda a cadeia de valor da instituição, como transporte de produtos, serviços contratados e descarte de resíduos. “Ao identificar nossas fontes de emissão e mensurar dados com precisão, conseguimos estabelecer metas reais de redução e fortalecer a gestão ambiental da instituição. Sem diagnóstico, não há controle, e sem controle, não há gestão”, ressalta o especialista em ESG do Grupo Marista, Rafael Riva Finatti. A meta inicial de redução para o primeiro ano ficou estabelecida em 5%.
Um movimento voluntário com visão de futuro
A decisão de realizar o inventário partiu da área de ESG do Grupo Marista, como parte de um processo mais amplo de amadurecimento institucional. Os pilares social e de governança se encontram mais consolidados na organização, mas o pilar ambiental ainda demandava maior estruturação. Com os dados em mãos, o Grupo pretende agora estabelecer metas de redução e, a partir de 2026, incorporar tecnologias de automação para tornar o processo mais eficiente.
A iniciativa também exerce um papel importante na construção da reputação institucional. Em um cenário de crescente exigência por parte da sociedade, de investidores e de parceiros, organizações que demonstram responsabilidade ambiental de forma consistente têm mais oportunidades de conquistar confiança e de se diferenciar no mercado. Além disso, inventários como esse podem facilitar o acesso a financiamentos e recursos, especialmente à medida que bancos e fundos passam a adotar critérios ESG em seus processos decisórios.
O primeiro levantamento do Grupo Marista revelou a emissão de mais de cinco mil toneladas de CO₂ equivalente em 2024, sendo 65% provenientes do escopo 1 — como o uso de combustíveis em hospitais, atividades agrícolas e na frota de veículos — e 35% do escopo 2, relacionado ao consumo de energia elétrica nas unidades.
Com o diagnóstico em mãos, a organização poderá estabelecer metas de redução, aprimorar processos e planejar investimentos ambientais mais assertivos. O próximo passo será a adoção de sistemas digitais para monitoramento contínuo e gestão inteligente das emissões. “Com esse inventário, damos um passo importante na nossa estratégia de sustentabilidade e reafirmamos o compromisso com uma atuação responsável, alinhada ao futuro que queremos construir”, finaliza Rafael.