Aluguel por aplicativo começa a ganhar força no paĂs. CrĂ©ditos: divulgação |
Especialistas e entidades de classe falam sobre cenĂĄrio econĂŽmico, mudanças no comportamento do consumidor, influĂȘncia da digitalização e outros fatores que aguardam setor
Os Ășltimos dois anos nĂŁo foram gentis com muitos setores da economia brasileira. O mercado de automĂłveis, por exemplo, viu-se afetado nĂŁo apenas por mudanças no perfil e comportamento dos consumidores, influenciados pela pandemia de covid-19, mas tambĂ©m por fatores que foram da busca por menos burocracia Ă escassez de insumos para a produção dos veĂculos. Agora, com a pandemia momentaneamente controlada e a maior parte das atividades econĂŽmicas voltando a ganhar força, entidades de classe e especialistas no setor automotivo começam a antecipar as tendĂȘncias para 2022.
Mais informaçÔes para o consumidor
Se foi preciso resiliĂȘncia para manter o distanciamento social ao longo de 2020 e 2021, as pessoas tambĂ©m precisaram aprender a conviver com outros tipos de superação. Comprar um carro - novo ou usado - nĂŁo tem sido tarefa fĂĄcil hĂĄ vĂĄrios meses. A falta mundial de chips, usados em inĂșmeras partes do veĂculo, fez os preços dispararem e a espera pelos veĂculos se arrastar por meses a fio. Todo esse contexto causou uma mudança drĂĄstica no que os consumidores esperam de uma negociação.
Para o head comercial da DealerSites, cujo sistema digital atende a mais de 800 concessionĂĄrias em todo o Brasil, Marcos Pavesi, uma das necessidades para conquistar o cliente em 2022 Ă© a oferta de mais informaçÔes sobre a compra. “A jornada de compra hoje estĂĄ um pouco mais longa - e isso acontece porque ela estĂĄ no digital. O vendedor conseguia trazer um senso de urgĂȘncia e de escassez para o consumidor, o que nĂŁo acontece quando a negociação Ă© digital. Mas essa jornada pode ser reduzida se o consumidor tiver acesso a informaçÔes transparentes”, explica.
Isso pode ser feito de vĂĄrias formas, mas a ideia central precisa ser deixar claro para o cliente o mĂĄximo possĂvel de detalhes durante as etapas de compra. “O consumidor precisa ter acesso ao preço do carro, Ă taxa de financiamento, a como funciona a simulação de compra com esse financiamento, por exemplo. Ajuda ainda mais se a concessionĂĄria oferecer tambĂ©m uma estimativa de valor do carro usado que pode ser utilizado como parte da compra.” Embora esse Ășltimo fator nĂŁo seja simples, Ă© fundamental deixar o cliente Ă vontade para dizer quanto ele gostaria de receber no carro usado, detalha o especialista. “A longo prazo, isso tem muito efeito e Ă© um trabalho que as concessionĂĄrias ainda fazem pouco”, aponta.
Assinatura e aluguel por perĂodos curtos
Ao usar menos o carro no dia a dia, muita gente percebeu que ter um carro particular, muitas vezes, nĂŁo Ă© a opção mais adequada para seu perfil. E os aplicativos de mobilidade, como o Uber, nĂŁo sĂŁo mais as Ășnicas opçÔes para essas pessoas. Presente no exterior jĂĄ hĂĄ alguns anos, uma nova modalidade de aluguel de veĂculos começa a ganhar força no Brasil: o aluguel por perĂodos mais curtos. Funciona como o aluguel de bicicletas por aplicativo, sucesso em cidades turĂsticas como o Rio de Janeiro. O usuĂĄrio se cadastra por meio do app, seleciona o veĂculo desejado, cadastra um cartĂŁo de crĂ©dito e jĂĄ pode sair andando. O gerente de operaçÔes e inovação da VIX LogĂstica e do V1, Leonardo Ballestrassi, afirma que a facilidade para alugar e devolver os veĂculos atrai cada vez mais interessados no modelo. “A ideia desse formato de aluguel Ă© ser 100% digital, do inĂcio ao fim. Temos, por exemplo, a modalidade de aluguel por 12 horas, sem filas. Depois que o cadastro Ă© aprovado via aplicativo, o cliente sai com o carro em trĂȘs minutos”, conta. “Entendemos que, depois da pandemia, a busca por esse tipo de serviço vai se tornar cada vez mais comum, porque as pessoas se deram conta de que nĂŁo precisam de um veĂculo prĂłprio, mas precisam de um veĂculo sempre Ă mĂŁo”, justifica Ballestrassi.
AlĂ©m do aluguel por perĂodos curtos, a assinatura de veĂculos tambĂ©m pode ser uma boa opção para quem quer fugir dos juros altos de financiamento de carros zero quilĂŽmetros. Nesse tipo de negociação, todas as questĂ”es burocrĂĄticas e tĂ©cnicas, como documentação, emplacamento, manutenção preventiva, taxas e impostos, ficam por conta do V1. “Com um veĂculo por assinatura, o cliente pode escolher o modelo do carro zero km, assinar o contrato e acompanhar detalhes como o tempo desejado da assinatura, as revisĂ”es e os pagamentos diretamente no aplicativo”, explica Ballestrassi.
Carros usados e financiamentos em alta
Assim como vem acontecendo nos Ășltimos anos, os veĂculos usados e a procura por financiamentos devem continuar aquecidos por mais algum tempo. De acordo com o vice-presidente da Federação Nacional da Distribuição de VeĂculos Automotores (Fenabrave), LuĂs AntĂŽnio Sebben “os problemas de produção sĂŁo globais e afetam todos os mercados do mundo, nĂŁo apenas o Brasil. Em função da pandemia e dos problemas enfrentados pelos fornecedores, as previsĂ”es de normalização apontam apenas para o segundo trimestre de 2022”. Essa previsĂŁo indica que as vendas e financiamentos de carros usados devem seguir em alta pelo menos atĂ© março.
Economicamente falando, no entanto, a expectativa Ă© otimista. O vice-presidente da Tecnobank, LuĂs OtĂĄvio Matias, lembra que “o mercado de automĂłveis e financiamento Ă© muito resiliente e mostrou toda essa força durante a pandemia. O mercado financeiro gosta de bons ativos e o financiamento de automĂłveis Ă© um deles. EntĂŁo, acredito que o mercado vai ser criativo para buscar esse ativo”. AlĂ©m disso, ele destaca que a carteira de crĂ©dito de longo prazo, concedida hĂĄ mais de dois anos, deve performar bem, se a inflação nĂŁo corroer o poder de compra. “Esses dois fatores, mais a regularização da oferta de veĂculos novos no segundo semestre, podem fazer o mercado financeiro correr um pouco mais de risco e impactar menos na oferta de crĂ©dito”, completa.
NegociaçÔes on-line
Para o presidente do Sindicato dos ConcessionĂĄrios e Distribuidores de VeĂculos do Estado do ParanĂĄ (Sincodiv-PR), Marcos Ramos, as concessionĂĄrias ainda estĂŁo se adaptando Ă s negociaçÔes de veĂculos feitas de forma digital. “HĂĄ todo um trĂąmite que precisa do concessionĂĄrio para acontecer e o setor estĂĄ se adequando Ă s novas tecnologias. As empresas estĂŁo entrando na era digital e isso deve se fortalecer nos prĂłximos meses. Entretanto, o segmento de pĂłs-vendas nĂŁo parou durante a pandemia e tornou-se mais importante para o consumidor e para a concessionĂĄria, porque o cliente busca consultoria e atendimento personalizados, principalmente nessa ĂĄrea”, opina.
Investimento em pesquisa de mercado
Entender o comportamento do consumidor nessa nova fase da economia serĂĄ essencial. E, para isso, os investimentos em pesquisa de mercado devem ganhar força. “Um dos nossos levantamentos mostra que 30% dos brasileiros buscam trocar de carro a cada 12 meses. Quando falamos em conversĂŁo de venda, entre 10 e 15% fecham o negĂłcio em atĂ© 30 dias. Ă fundamental ter dados como esses para determinar estratĂ©gias sĂłlidas para a retomada do setor”, finaliza Pavesi.
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