O futuro é digital e é idoso: o que aprendi com minha mãe de 83 anos durante a pandemia

Ozires de Oliveira é gerente de Serviços e gestor de Ação e Responsabilidade Social no Instituto das Cidades Inteligentes
Créditos: Divulgação

Por Ozires de Oliveira*

Nunca é tarde demais para encarar o mundo digital. Minha mãe me provou isso aos 83 anos, quando perdeu o medo da tecnologia e decidiu aprender a usar o celular. Um processo difícil e um pouco solitário, porque foi o isolamento da pandemia que a fez perceber como a tecnologia poderia ser uma aliada para diminuir a distância de familiares e amigos. O fato é que a presença digital já não diz respeito apenas aos jovens e adultos. E isso não é só um retrato momentâneo, é também uma tendência que mudará para sempre a forma como a sociedade consome produtos e serviços.

Sim, os 80 são os novos 50. As gerações mais velhas estão encontrando na tecnologia meios para envelhecer melhor. Quando pensamos na covid-19, concluímos que a utilização dessas ferramentas tornou-se essencial ao grupo de risco. Minha mãe mesma está presente em mais redes sociais do que eu. Isso mostra que idosos têm descoberto que o digital pode dispor de ferramentas poderosas para minimizar o distanciamento social, dar autonomia e desenvolver funções mentais. Eles querem estar por dentro do que acontece no mundo, saber tudo sobre política, economia e saúde.

Mas, se para os jovens não é fácil acompanhar tantas atualizações do universo digital, para os idosos essa tarefa se torna ainda mais complicada. Só fui entender a dimensão dessa dificuldade quando acompanhei de perto o contato inicial da minha mãe com a tecnologia. Foi aí que percebi a necessidade de iniciativas, como cursos de capacitação para a terceira idade, começando pelas funções do smartphone, que pudessem diminuir os desafios e as barreiras que surgem na utilização de dispositivos. Enviar uma foto ou um áudio, participar de uma conversa de vídeo ou ainda encaminhar um arquivo são tarefas que se tornaram essenciais, mas não faziam parte da rotina dessas pessoas.

E é sim possível tornar mais fácil o uso de celulares e computadores. O primeiro passo seria as empresas de tecnologia se preocuparem com a experiência do usuário e a interface digital. Fontes e áreas de clique maiores, contraste de cores, atenção ao uso exagerado de elementos e informações claras de uso são alguns poucos exemplos do que precisa ser aplicado para facilitar a utilização de produtos digitais por idosos. Mais do que nunca, as empresas de tecnologia têm o dever de pensar em soluções para ajudar na inserção dos idosos nesse universo.

Estamos caminhando para um futuro cada vez mais digital e idoso. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil, em 2016, tinha a quinta maior população idosa do mundo; em 2030, terá mais velhos do que jovens e, em 2050, a população acima dos 60 anos será o dobro do contingente de crianças e adolescentes com menos de 14 anos. Até lá, a tecnologia já será uma parte intrínseca do nosso dia a dia e não faltarão ferramentas para tornar a vida mais segura. Por isso, a inclusão digital desse grupo mais vulnerável já é iminente e novos hábitos precisarão ser incorporados a partir dessa virada de chave. Terceira idade e tecnologia combinam, sim.

 

*Ozires de Oliveira é gerente de Serviços e gestor de Ação e Responsabilidade Social no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI)

 

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