Opinião: Professores que inspiram




 Carlos Henrique Wiens*

Esqueçam as contas matemáticas, as regras gramaticais e as distâncias marcadas nos mapas. A verdadeira missão de um professor é ajudar a construir histórias. Quando pensamos nos nossos primeiros anos na escola, as melhores lembranças estão sempre associadas à convivência com alguém que nos pegou pela mão e nos mostrou que nós éramos importantes e capazes, quase sempre a figura de um professor.

Ao longo de sua trajetória escolar, cada ser humano experimenta muitas lições importantes para a vida adulta e a carreira profissional, mas essa talvez seja a mais importante delas. “Eu acredito no seu potencial”, “você pode sonhar mais alto”, “seja persistente e você poderá realizar grandes feitos”. Essas são frases que, embora nem sempre sejam ditas, podem ser lidas em pequenas atitudes, gestos e atenções que os mestres vão dando dia após dia, em sala de aula e fora dela, naquele olhar carinhoso para um aluno que enfrenta dificuldades com o conteúdo, naquela conversa que quebra barreiras e permite que o estudante encare sua timidez diante da turma, naquele incentivo que vem no lugar de uma repreensão depois de um resultado negativo em uma avaliação.

É importante que nós, professores, tenhamos sempre o cuidado de entender que cada aluno é um universo de experiências, habilidades e personalidade absolutamente únicos. Que entendamos que nem sempre uma dificuldade para absorver a matéria é sinal de incapacidade e que nem sempre o atraso ou a sonolência durante a aula é sinal de que o aluno não se importa. Cada criança e adolescente está, como nós mesmos estamos, constantemente desafiando a si mesmo. E essa é uma jornada muito menos dolorosa se eles puderem enxergar em nós catalisadores para seu potencial criativo e intelectual.

Quantas histórias ouvimos de crianças que tiveram muitos problemas de aprendizagem, até que um professor específico percebeu que ela precisava de ajuda para além do simples repassar de conteúdo? Muitas são as oportunidades que se apresentam para que nossos alunos sejam seres humanos extraordinários e cabe a nós enxergar essas oportunidades e fazer delas pontos de virada em suas vidas. E, ao mesmo tempo que marcamos suas histórias para sempre, também somos marcados por elas, com a recompensa de guardar no coração a evolução desses seres que, com o passar dos anos, se tornarão cada vez mais completos, enchendo-nos de gratidão e esperança no futuro sempre que nos reencontrarmos.

Talvez precisemos nos ver menos como apenas professores e mais como escritores. Estamos paulatinamente contribuindo para que cada um dos estudantes que passam por nossas salas de aula escreva sua própria biografia em plenitude emocional, intelectual e social. Como diz Madalena Freire, “o educador lida com a arte de educar. O instrumento de sua arte é a pedagogia, ciência da educação, do ensinar. É no ensinar que se dá seu aprendizado de artista”.

 

*Carlos Henrique Wiens é coordenador das Assessorias de Áreas da Editora Aprende Brasil. 


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